Acabando com as brigas constantes
Todos os casais discutem e o conflito até é importante numa relação afetiva. No entanto, há discussões intensas, que nem sempre versam sobre assuntos importantes, que deixam marcas e que se transformam em novelos difíceis de desfazer. Fazer as pazes nem sempre é fácil e, quanto maior é a escalada de agressividade, mais difícil se torna a reaproximação. Pior do que isso: quando as discussões intensas se tornam relativamente frequentes, a recuperação é ainda mais difícil. Mas não é impossível!
Em primeiro lugar, e embora seja difícil, importa reconhecer que quando duas pessoas que se amam discutem há alguma probabilidade de uma estar a atacar enquanto a outra procura defender-se. Tratam-se como adversários, usando sobretudo o pronome “Tu” – “TU não és capaz de fazer NADA do que eu peço”, “Como é possível que TU me acuses?”. Ou quando usam o “Eu”, nomeadamente para reforçar a crítica – “EU sou o teu escravo”, “EU sou a única a tentar salvar esta relação”. De um modo geral, ambos querem ter razão e lutam arduamente para o conseguir. Mas uma discussão conjugal não tem de ser uma guerra. Olhar para estes momentos de tensão usando o “Nós” não é apenas uma questão de semântica. Quando dizemos “NÓS estamos cansados de discutir desta maneira” ou quando perguntamos ao nosso cônjuge “NÓS não estamos a chegar a um consenso. Não é melhor pararmos?” olhamos de forma diferente para o conflito.
Se não é fácil travar a escalada, pode ser particularmente difícil assumir a nossa própria responsabilidade no que diz respeito à manutenção dos ciclos viciosos. Quando as discussões perigosas se instalam, ambos estão a errar, mesmo que involuntariamente. Quando um dos membros do casal começa por perceber que quanto mais grita, mais o cônjuge se isola, por maior que seja o seu desespero, a racionalidade começa a surgir. Como ninguém grita com a pessoa que ama “por acaso”, o desafio é imensamente difícil. É preciso controlar os impulsos, é preciso perceber que o desespero não tem de ser exteriorizado desta forma, é preciso assumir que os gritos e a exaltação constituem autênticas ameaças ao cônjuge. Mesmo que a mensagem que se quer transmitir seja “Ouve-me, por favor”. Claro que do outro lado o exercício também tem de ser feito. Quem “foge” à discussão, mostrando-se imperturbável perante os gritos histéricos do cônjuge, até pode estar a tentar conter a escalada, mas, na prática, está tornando o problema ainda maior e deve ser capaz de o assumir.
Quando somos capazes de perceber que existem padrões comportamentais que estão nos impedindo de dialogar com o nosso cônjuge, abre-se a porta para que possamos falar abertamente sobre o mais importante – os nossos sentimentos. Mas este não é um desafio mais fácil do que os anteriores, já que nem sempre somos capazes de expressar as nossas emoções sem cair na tentação de atacar o outro. Então, o reconhecimento dos nossos sentimentos não pode ser dissociado da tentativa de perceber os sentimentos do cônjuge. Não podemos esquecer que as nossas feridas nos toldam o discernimento e que, por isso, não raras vezes nos sentimos dominados pelo medo e acabamos por ignorar que estamos a tocar nas feridas emocionais (pontos fracos) da pessoa que amamos e, assim, a contribuir ativamente para a manutenção do ciclo vicioso.
Mas como é que eu posso saber como é que o meu cônjuge se sente verdadeiramente? Como posso compreender as suas emoções mais profundas, em particular se ele(a) não se expõe? Precisamos perguntar. Quando abandonamos o padrão segundo o qual estamos sistematicamente à espera do pior do nosso cônjuge, começamos a mostrar interesse genuíno acerca daquilo que ele(a) verdadeiramente sente ao longo da escalada de agressividade. Mostramos o nosso interesse de forma clara.
Que emoções estão, de um modo geral, por detrás destes ciclos viciosos? Muitas vezes a tristeza e a vergonha, mas também a ansiedade, o medo de perder o cônjuge. Claro que não são estas as emoções que mostramos / a que acedemos durante as discussões – mostramos / vemos sobretudo fúria e desprendimento.
Quando o marido se queixa de forma muito negativa de que se sente pouco acarinhado pela mulher, pode não ser capaz de transmitir a mensagem de forma clara. A verdade é que está furioso e até tem legitimidade para tal. Em vez de mostrar que se sente vulnerável e de dizer que teme que a mulher esteja a deixar de gostar dele, acaba por acusá-la quase de forma ininterrupta - “Sou SEMPRE EU que te dou um beijo quando chego a casa. TU NUNCA me abraças, NUNCA me dás um miminho. Há quanto tempo não fazemos amor? TU não me dás afeto, não me dás atenção, não me dás sexo, não me dás NADA.” Enquanto descarrega a sua fúria, o mais provável é que a mulher se sinta pressionada, atacada e que, reaja a estas acusações revirando os olhos, abanando a perna, suspirando… Em suma, está saturada e acaba por não só não compreender as queixas do marido, que ama, como por mostrar um imenso desprezo.
A partir do momento em que somos capazes de identificar os padrões disfuncionais, é um pouco mais fácil aceder às emoções reais. Se a mulher for capaz de perceber que, quando rejeita a tomada de iniciativa do seu marido para que haja intimidade sexual este sente-se rejeitado e teme perdê-la, ser-lhe-á mais fácil confortá-lo. Em vez de ignorar as suas reclamações ou de o chamar de “tarado”, dir-lhe-á algo como “Eu sei que fui fria contigo, mas estava esgotada. Sabia que querias fazer amor comigo, mas tive medo da tua reação, então, limitei-me a virar-me para o outro lado”.
Quando assumimos a nossa responsabilidade na dinâmica de uma discussão e compreendemos que os nossos comportamentos (aquilo que dizemos de forma verbal e não verbal) desencadeiam no cônjuge alguns medos, torna-se mais fácil assimilar aquilo que o outro sente, partilhar a sua dor perante a rejeição
Em primeiro lugar, e embora seja difícil, importa reconhecer que quando duas pessoas que se amam discutem há alguma probabilidade de uma estar a atacar enquanto a outra procura defender-se. Tratam-se como adversários, usando sobretudo o pronome “Tu” – “TU não és capaz de fazer NADA do que eu peço”, “Como é possível que TU me acuses?”. Ou quando usam o “Eu”, nomeadamente para reforçar a crítica – “EU sou o teu escravo”, “EU sou a única a tentar salvar esta relação”. De um modo geral, ambos querem ter razão e lutam arduamente para o conseguir. Mas uma discussão conjugal não tem de ser uma guerra. Olhar para estes momentos de tensão usando o “Nós” não é apenas uma questão de semântica. Quando dizemos “NÓS estamos cansados de discutir desta maneira” ou quando perguntamos ao nosso cônjuge “NÓS não estamos a chegar a um consenso. Não é melhor pararmos?” olhamos de forma diferente para o conflito.
Se não é fácil travar a escalada, pode ser particularmente difícil assumir a nossa própria responsabilidade no que diz respeito à manutenção dos ciclos viciosos. Quando as discussões perigosas se instalam, ambos estão a errar, mesmo que involuntariamente. Quando um dos membros do casal começa por perceber que quanto mais grita, mais o cônjuge se isola, por maior que seja o seu desespero, a racionalidade começa a surgir. Como ninguém grita com a pessoa que ama “por acaso”, o desafio é imensamente difícil. É preciso controlar os impulsos, é preciso perceber que o desespero não tem de ser exteriorizado desta forma, é preciso assumir que os gritos e a exaltação constituem autênticas ameaças ao cônjuge. Mesmo que a mensagem que se quer transmitir seja “Ouve-me, por favor”. Claro que do outro lado o exercício também tem de ser feito. Quem “foge” à discussão, mostrando-se imperturbável perante os gritos histéricos do cônjuge, até pode estar a tentar conter a escalada, mas, na prática, está tornando o problema ainda maior e deve ser capaz de o assumir.
Quando somos capazes de perceber que existem padrões comportamentais que estão nos impedindo de dialogar com o nosso cônjuge, abre-se a porta para que possamos falar abertamente sobre o mais importante – os nossos sentimentos. Mas este não é um desafio mais fácil do que os anteriores, já que nem sempre somos capazes de expressar as nossas emoções sem cair na tentação de atacar o outro. Então, o reconhecimento dos nossos sentimentos não pode ser dissociado da tentativa de perceber os sentimentos do cônjuge. Não podemos esquecer que as nossas feridas nos toldam o discernimento e que, por isso, não raras vezes nos sentimos dominados pelo medo e acabamos por ignorar que estamos a tocar nas feridas emocionais (pontos fracos) da pessoa que amamos e, assim, a contribuir ativamente para a manutenção do ciclo vicioso.
Mas como é que eu posso saber como é que o meu cônjuge se sente verdadeiramente? Como posso compreender as suas emoções mais profundas, em particular se ele(a) não se expõe? Precisamos perguntar. Quando abandonamos o padrão segundo o qual estamos sistematicamente à espera do pior do nosso cônjuge, começamos a mostrar interesse genuíno acerca daquilo que ele(a) verdadeiramente sente ao longo da escalada de agressividade. Mostramos o nosso interesse de forma clara.
Que emoções estão, de um modo geral, por detrás destes ciclos viciosos? Muitas vezes a tristeza e a vergonha, mas também a ansiedade, o medo de perder o cônjuge. Claro que não são estas as emoções que mostramos / a que acedemos durante as discussões – mostramos / vemos sobretudo fúria e desprendimento.
Quando o marido se queixa de forma muito negativa de que se sente pouco acarinhado pela mulher, pode não ser capaz de transmitir a mensagem de forma clara. A verdade é que está furioso e até tem legitimidade para tal. Em vez de mostrar que se sente vulnerável e de dizer que teme que a mulher esteja a deixar de gostar dele, acaba por acusá-la quase de forma ininterrupta - “Sou SEMPRE EU que te dou um beijo quando chego a casa. TU NUNCA me abraças, NUNCA me dás um miminho. Há quanto tempo não fazemos amor? TU não me dás afeto, não me dás atenção, não me dás sexo, não me dás NADA.” Enquanto descarrega a sua fúria, o mais provável é que a mulher se sinta pressionada, atacada e que, reaja a estas acusações revirando os olhos, abanando a perna, suspirando… Em suma, está saturada e acaba por não só não compreender as queixas do marido, que ama, como por mostrar um imenso desprezo.
A partir do momento em que somos capazes de identificar os padrões disfuncionais, é um pouco mais fácil aceder às emoções reais. Se a mulher for capaz de perceber que, quando rejeita a tomada de iniciativa do seu marido para que haja intimidade sexual este sente-se rejeitado e teme perdê-la, ser-lhe-á mais fácil confortá-lo. Em vez de ignorar as suas reclamações ou de o chamar de “tarado”, dir-lhe-á algo como “Eu sei que fui fria contigo, mas estava esgotada. Sabia que querias fazer amor comigo, mas tive medo da tua reação, então, limitei-me a virar-me para o outro lado”.
Quando assumimos a nossa responsabilidade na dinâmica de uma discussão e compreendemos que os nossos comportamentos (aquilo que dizemos de forma verbal e não verbal) desencadeiam no cônjuge alguns medos, torna-se mais fácil assimilar aquilo que o outro sente, partilhar a sua dor perante a rejeição
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